terça-feira, 1 de setembro de 2009

Medo da democracia



“A política deve ser uma coisa diferente desse universo, digno da ficção científica, no qual o povo só existiria sob a forma de sondagens(de preferência telefônicas) e assistiria na televisão às lutas que, ‘em seu nome’, seriam travadas pelos diferentes clãs de um mundo político que, de fato, obedeceria exclusivamente à lógica de suas lutas intestinas.”
(Patrick Champagne, Formar a Opinião:O Novo Jogo Político)

Na última segunda-feira (31/08) tivemos em Rio Grande um importante fato que atenta contra a democracia. É impressionante como ainda temos em nosso município, em nossa casa legislativa, o medo da participação popular e, portanto, medo da democracia.
Foi derrotado o projeto de criação da Tribuna Popular por ampla maioria dos vereadores, defensores ferrenhos do governo municipal. Qual o medo de ter representantes da sociedade civil utilizando a tribuna por dez minutos, uma vez por mês? A Câmara de Vereadores é a casa do povo e acredito que a idéia de Tribuna Popular não só deveria ter sido aprovada como poderia ser mais ampla e com mais tempo.
Alguns vereadores argumentaram que quem quiser utilizar a tribuna que se eleja, em uma clara demonstração de desprezo pelo povo, a crença de que uma vez eleitos são donos dos seus mandatos, quando na verdade a soberania é do povo e não dos eleitos. Ainda a justificativa de que não deveriam ser os representantes de entidades de nosso município, como sindicatos e associações de bairro, que deveriam participar. Ora, são estes os representantes de regiões, grupos de interesse, categorias profissionais, muitas vezes com mais força representativa que muitos vereadores rio-grandinos. Defender que a sociedade civil não deve ter espaço para ser ouvida é enterrar a democracia em nossa cidade!
De resto a sessão foi uma tentativa de justificar o injustificável, de justificar que não se pode ampliar a democracia em um espaço que deveria ser democrático por natureza.
Por que o medo da sociedade? Por que querer calar os representantes da sociedade civil?
Aí vem o argumento mais absurdo, que esta proposta serviria para se fazer política na Câmara de Vereadores. Ora, nem em Sucupira veríamos isto. Se não se pode fazer política em uma casa legislativa, onde se fará? O legislativo é um espaço público e deve ser apropriado para a discussão e o debate político ou perde sua razão de existência.
Evidente que a sociedade organizada participando gera desconforto para aqueles que querem seus cargos apenas para fazer clientelismo e serem serviçais do executivo.
Não dar espaço para participação é ferir a democracia, é derrotar a política. Segundo o importante sociólogo francês, Pierre Bourdieu: “se o trabalho político é, quanto ao essencial, um trabalho sobre as palavras, é por que as palavras ajudam a fazer o mundo social”. Se formos tolher as palavras da sociedade, onde estará a política?
É preciso que se busque formas de participar, de se discutir, de fazer política, de se exercer cidadania. É preciso que as instituições políticas locais que são aquelas mais próximas das pessoas não se tornem o instrumento opressivo de um conformismo anônimo.


Cristiano Engelke