segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A nova consciência democrática do povo, por Emir Sader




O enorme apoio do governo Lula vem, sobretudo, dos resultados das políticas sociais do governo. O apoio é tão generalizado (mais de 80% e apenas 3% de rejeição) que fica difícil distinguir diferenças por nível de renda ou de escolaridade, mas o resultado eleitoral permite ver como os setores de apoio mais firme - os que deram inequivocamente a vitória a Dilma - foram os de menor nível de renda. Visível também porque foram os apoios amplamente majoritários nas regiões com um peso predominante dos pobres – como o norte e o nordeste.

Uma das questões que se coloca é saber a que se deve a diferença entre o índice de apoio do governo e a votação da Dilma. Claro que o apoio ao governo tem matizes – do ótimo ao regular – e estes refletem disposição de transferência do voto a Dilma o apenas anuência diante das relações inegáveis do governo Lula.

Mas foi possível perceber que, colocados diante da comparação entre os governos Cardoso e Lula – ou diante da percepção do que viveram nos anos 90 e do que passaram a viver na primeira década deste século -, uma grande maioria de brasileiros opta pela continuidade e aprofundamento do governo Lula com Dilma. Foi diante dessa barreira que o candidato tucano buscou um atalho – buscar desviar o debate dessa comparação política para um tema como o aborto e seus desdobramentos religiosos, no circuito das igrejas.

Essa operação teve efeitos eleitorais, porque uma parte dos beneficiários das políticas sociais opta claramente pela continuação do governo Lula, representado pela Dilma, mas foi vítima dos preconceitos, explorados por religiosos.

Podemos dizer que o governo encontrou o modelo econômico social que o Brasil precisa para retomar o desenvolvimento e, ao mesmo tempo distribuir renda. Adequações são necessárias e já começaram a ser feitas ainda no governo Lula, para superar os efeitos negativos da taxa de juros alta e da valorização artificial do real. As políticas sociais terão não apenas que ser intensificadas, mas diversificadas e ampliadas, porém seu norte básico já está dado.

A oposição já demonstrou que não tem modelo alternativo. Oscilou entre reivindicar o atual como seu ou fazer criticas marginais. Entra agora em uma grande crise de identidade, com um pólo assumidamente direitista, que pretende personificar o neoliberalismo duro e puro, do Estado mínimo e do reino do mercado. Esse pólo se isolará cada vez mais, sem capacidade de incorporar políticas sociais e de conquistar bases populares de apoio, ficando restrito a setores ideológicos da classe média e grupos ruralistas. Já os tucanos ficam sem identidade, passarão por um longo processo de brigas internas, do qual não sairão tão cedo e marcados por muitas feridas.

A principal disputa na sociedade se dará no plano dos valores, da cultura, da luta ideológica. Porque a complexidade e o desenvolvimento desigual das relações sociais e também ideológicas fazem com que as pessoas comecem a tomar consciência social do mundo a partir de circunstancias concretas. Sentem a melhoria das suas condições de vida, se dão conta de que nunca tinham sido contempladas pelos governos anteriores. Mas continuam, em outros planos, a ser vitimas de preconceitos, disseminados pela imprensa, por religiosos conservadores. Para que superem essa alienação, para que tomem consciência não apenas dos seus interesses imediatos, mas também de como funciona a sociedade, o poder, a imprensa, as igrejas conservadores, entre tantos outros fenômenos, se torna indispensável uma consciência social ampla.

A democratização econômica e social extraordinária que o Brasil passou a viver nos últimos anos precisa se estender ao plano da consciência, da organização popular e da construção de novos representantes políticos das camadas emergentes do povo brasileiro.

Texto publicado pelo sociólogo Emir Sader no site da Carta Maior.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

BÚSSOLA POLÍTICA – FAÇA O TESTE E DESCUBRA SE VOCÊ É DE ESQUERDA, DE DIREITA OU TICO-TICO-NO-FUBÁ


Você gastará cerca de cinco minutos respondendo às questões deste teste. O texto está em espanhol, mas, mesmo que você não conheça uma ou outra palavra, certamente compreenderá o significado das perguntas. As opções de respostas são: Muy en desacuerdo (discordo totalmente), en desacuerdo (discordo), de acuerdo (concordo) ou Muy de acuerdo (concordo totalmente). No final, você conhecerá sua posição na bússola política.
O questionário é anônimo, não solicita informações pessoais, não fica arquivado e ninguém poderá consultá-lo. Segundo seus idealizadores – um jornalista político e um professor de História – não há respostas certas ou erradas, tampouco inidôneas. Trata-se, simplesmente, de uma medida das atitudes e das inevitáveis contradições humanas para estabelecer uma definição mais completa de onde se situam, verdadeiramente, os partidos e as pessoas.

Para iniciar o teste, clique aqui.
Este post foi retirado do blog CloacaNews.
Você pode deixar no seu comentário o seu resultado!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Vem aí uma nova era conservadora?


Posto abaixo artigo de meu professor na graduação e mestrado na UFRGS, o cientista político André Marenco, em artigo publicado no jornal Zero Hora, 06-11-2010.

Segundo ele, "do contrário, o ressentimento daqueles que não querem ver o “seu” imposto convertido em benefícios sociais poderá representar a usina para um conservadorismo revigorado".

Eis o artigo.


Vem aí uma nova era conservadora?

O economista americano Albert Hirschmann observou que períodos de grande mobilidade social costumam ser seguidos por ondas conservadoras, marcadas por uma retórica de intolerância em relação à mudança e a concessão de benefícios aos pobres.

O principal legado da era Lula foi, sem dúvida, políticas de transferência de renda que reduziram a pobreza absoluta de 28% para 15% da população e permitiram a ascensão social de 30 milhões de brasileiros para a classe C.

O senso comum repete o mantra que todos os governos possuem políticas assistencialistas, mas ignora a escala e magnitude que políticas redistributivas adquiriram nos oito anos da presidência Lula, correspondendo ao triplo dos recursos orçamentários em percentual do Produto Interno Bruto, destinados no governo Fernando Henrique Cardoso. Programas sociais, novos empregos, aumentos reais no salário mínimo e acesso ao crédito foram responsáveis por produzir taxas chinesas de 10% ao ano no crescimento da renda dos mais pobres durante esse período, contra apenas 3% de incremento nos ganhos dos indivíduos mais ricos. Impostos que geram receita pública, traduzida em prioridade conferida a investimentos sociais, que aumentam a renda dos mais pobres, que consomem mais, aquecem a economia, aumentando a receita pública. Esta é a equação virtuosa que a social-democracia europeia descobriu e que Lula adaptou a nossa economia.

O problema é que rancores e ressentimentos contra a transferência de renda embutida não tardam em se manifestar. No espaço entre os 83% de aprovação ao presidente e os 56% de votos conquistados por sua sucessora, podemos encontrar médicos, advogados e outros membros da classe média tradicional dizendo “já basta de financiar os pobres”, enquanto suas paredes ostentam diplomas das melhores universidades – públicas, é claro.

O aborto não foi o issue fundamental da disputa eleitoral nem terá um lugar importante no debate político dos próximos anos. Apenas uma pequena minoria de fundamentalistas religiosos perde o sono com essa questão. “Conflitos distributivos”, esse sim é o nome do jogo que separou o voto dos eleitores das regiões mais pobres em relação às mais ricas, e, nestas, dos moradores de zonas nobres em relação àqueles das periferias urbanas, e que recrudescerá nos próximos anos.

O sociólogo francês Pierre Bourdieu percebeu que a convivência de rígidas hierarquias sociais com a ideologia igualitária do mundo moderno foi possível graças aos diplomas universitários: filhos de famílias abastadas frequentam as melhores escolas e com isso têm mais probabilidade de acesso a títulos universitários de maior prestígio e, por consequência, postos profissionais de status e renda mais elevados. Tudo sob a roupagem do mérito individual. Mas se os pobres começam também a ingressar nas universidades – públicas, ora vejam –, como vamos assegurar para nossos filhos o lugar que a eles cabe por direito adquirido?

É preciso recolocar os pobres no seu lugar: essa deverá ser a consigna da era pós-Lula, que ouviremos evidentemente com outras palavras, como disciplina fiscal, livre iniciativa, mercado. A experiência mais profunda e longeva de redistribuição de renda –os welfare states europeus – só foi possível por amparar-se em alianças sociais entre sindicatos de trabalhadores, classes médias e, em alguns casos, como na Escandinávia, proprietários rurais, e esgotou-se quando essa aliança se partiu. Este será o grande desafio da era pós-Lula: combinar políticas de transferência de renda com ganhos efetivos oferecidos à classe média. Do contrário, o ressentimento daqueles que não querem ver o “seu” imposto convertido em benefícios sociais poderá representar a usina para um conservadorismo revigorado.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Para enfrentar a “direitização” de parte da sociedade


Posto aqui o texto "Para enfrentar a “direitização” de parte da sociedade", de Dennis Oliveira, publicado no site da Revista Forum.


Depois de muita comemoração com a vitória de Dilma, é hora de por a razão para funcionar. Não para diminuir a importância da vitória mas para pensarmos na real situação do pais e o caminho que precisa ser trilhado para construirmos uma sociedade mais justa.

Concordo com a avaliação do companheiro blogueiro sujo Renato Rovai de que a vitória de Dilma foi da militância. O susto tomado no início de outubro teve o papel positivo de forçar a campanha a ir para as ruas e mobilizar uma coisa que estava até ficando fora de moda que é a militância. Contribuiu muito com isto a opção do candidato Serra de enveredar por um discurso mais direitista, beirando o nazifacismo, que forçou a mobilização de parcela da sociedade que, se não estavam tão entusiasmados com a candidatura de Dilma, perceberam o risco que seria a vitória do candidato Serra. Afinal, ao contrário do que uma parte da chamada extrema-esquerda dizia, os dois não eram a mesma coisa.

A vitória de Dilma foi uma derrota da mídia hegemônica. Ao contrário de algumas análises, considero que foi importante o ato contra o golpismo midiático realizado em final de setembro. Se houve algum prejuízo para a candidatura situacionista, radicalizando o confronto com a indústria midiática, também serviu para evidenciar publicamente o papel que a mídia vem desempenhando, retirando-a de um pedestal onde permanecia intocável. Apesar das manipulações matreiras que a grande mídia continuou fazendo, é evidente que ela ficou mais cuidadosa. Ela sentiu o golpe, principalmente quando percebeu que o PSDB tomou atitudes muito mais agressivas contra a “liberdade de imprensa”, como a proibição da divulgação das pesquisas no Paraná, a postura grosseira do candidato contra repórteres que lhe faziam perguntas incômodas, entre outras.

Foi também uma vitória da mídia alternativa que se espraia pelas redes virtuais, agindo como elemento de contenção das manipulações da mídia hegemônica. Graças a isto, a tentativa de transformar o episódio da agressão da bolinha de papel foi denunciada à exaustão, virou piada e desmoralizou ainda mais o candidato do PSDB. A Globo não conseguiu fazer daquilo o mesmo que conseguiu com o episódio do “dossiê dos aloprados” em 2006. William Bonner foi cuidadoso na condução do último debate da Globo (apesar da forcinha dada com o close em Serra nas considerações finais deste). Esta mesma mídia alternativa em rede alertou as possibilidades de uma “bala de prata” no final da campanha. Certamente, estas ações imobilizaram ou, pelo menos, impediram uma ação mais nefasta da mídia hegemônica nesta disputa eleitoral.

Porém, sendo gramsciano – pessimista na reflexão e otimista na ação – quero aqui fazer alguns senões nesta conjuntura. Chamo a atenção da necessidade dos movimentos sociais saírem de uma esfera extremamente institucional e investirem em um debate mais profundo sobre as suas bandeiras para enfrentar uma evidente direitização de visões ideológicas presentes em parcela significativa da população.

Os 44% dos votos de Serra não são do PSDB como parcela da mídia hegemônica quer fazer acreditar. O PSDB, como partido, saiu fragorosamente derrotado. Praticamente abandonou o seu discurso de origem, social-democrata. Do ponto de vista ideológico, virou o novo DEM. A entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à Folha de S. Paulo de terça passada é esclarecedora: “Não estou mais disposto a dar endosso a um PSDB que não defenda a sua história”, diz o ex-presidente. A derrota de Serra transformou o PSDB em um aglomerado de lideranças regionais mais parecendo uma confederação de novos coronéis: Aécio Neves (MG), Alckmin (SP), Richa (PR), Teotonio Vilela Filho (AL), entre outros. São políticos que constroem esquemas de alianças regionais, pouco tem a dizer sobre questões nacionais e ainda não foram submetidos a um debate nacional mais duro (exceção de Alckmin que foi candidato a presidente em 2006 e foi fragorosamente derrotado em um momento de crise no PT por conta do chamado “mensalão”).

O que a campanha de Serra deixa como rescaldo no debate político? O reforço dos sentimentos mais reacionários que ganharam visibilidade com o debate fundamentalista sobre aborto, o machismo implícito, o preconceito contra nordestino, entre outros. As pessoas que votaram no Serra não o fizeram, em sua grande parte, por uma adesão ao programa do PSDB – aliás Serra nem apresentou programa e ficou desfilando uma onda de promessas vazias, como 13º. para o Bolsa Família, salário mínimo de 600 reais, aumentar as aposentadorias, tudo que o PSDB sempre combateu.

O voto em Serra foi em parte um voto anti-Dilma, mas um anti-Dilma não por divergência com o programa do PT, e sim por um incômodo mal disfarçado por Dilma ser mulher. Já disse em outras ocasiões que Dilma – assim como Marta Suplicy – encarna um tipo de mulher que agride o sentimento machista, inclusive expresso por mulheres, por demonstrar independência, capacidade de decisão e autonomia (que é traduzido como arrogância e prepotência porque a idéia de mulher é a do ser frágil, como Marina Silva encarna).

Um anti-Dilma por preconceito pelos programas sociais do governo Lula beneficiarem uma parcela da população que era vista meramente como “mão de obra” e não “cidadãos” (daí a raiva de que elas votam e tem vontade própria).

Um anti-Dilma por raiva de um operário, nordestino e com tudo para dar errado sair da presidência com o recorde histórico de aprovação.

Um anti-Dilma por ficar evidente que estes sentimentos reacionários, machistas e preconceituosos são minoritários.

Assim, ainda há um longo caminho a trilhar pois não se pode negar a existência e a força de tais sentimentos. A questão do aborto colocada de forma absurdamente conservadora foi posta de tal forma que a tônica da discussão foi pautada apenas pelo aspecto religioso, obrigando, inclusive, a candidata a comprometer-se com exigências colocadas pelas organizações religiosas cristãs. Os preconceitos estão exacerbando-se pela rede virtual.

Se o projeto original do PSDB está em crise, as ideias mais reacionárias não. Em parte Serra perdeu porque, como disse Luis Nassif, ele como direitista fundamentalista é mais falso que CD vendido em camelô da Rua 25 de Março. Mas nada impede que outros candidatos mais afinados com este discurso retornem. E há espaços para isto.

Por isto, trabalhadores, mulheres, negros, estudantes, sem terra etc, vamos arregaçar as mangas e não ficar presos apenas a briga por ocupação de espaços institucionais.

http://www.revistaforum.com.br/blogdooliveira/

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Triste preconceito!

http://www.youtube.com/watch?v=D0vRQ0y08is

DEMOCRACIA X AUTORITARISMO SOCIAL


Impressionante, triste, revoltante, mas ao mesmo tempo normal. Nada de surpreendente, apenas explicita algo que subjaz nossa sociedade. Estou tratando da revolta preconceituosa, xenofóbica, racista, elitista, classista e autoritária que estamos vivendo nos últimos dias, principalmente na internet através do twitter, que representa um comportamento não apenas virtual, mas real e triste.

Inúmeros ataques aos nordestinos, ao Bolsa Família, aos pobres, ao PT, ao Lula, à Dilma, aos índios, entre outros ataques infestados de preconceito e exclusão social. Triste realidade.

Alguns comentários são necessários:

1) Isto demonstra que o pensamento mais arraigado na direita (ainda que nem saibam disso) persiste com força, de forma conservadora, autoritária e excludente. Ainda que politicamente vivamos em uma democracia, uma parcela da sociedade (esta mesma que se acredita superior!) ainda é extremamente autoritária. Lembro do artigo de Evelina Dagnino que tratava deste tema, ao explicar o que ela chama autoritarismo social:

O autoritarismo social engendra formas de sociabilidade numa cultura autoritária de exclusão que subjaz ao conjunto das práticas sociais e reproduz a desigualdade nas relações sociais em todos os seus níveis. Nesse sentido, sua eliminação constitui um desafio fundamental para a efetiva democratização da sociedade. A consideração dessa dimensão implica desde logo uma redefinição daquilo que é normalmente visto como o terreno da política e das relações de poder a serem transformadas. E, fundamentalmente, significa, de modo a incluir o conjunto das práticas sociais e culturais, uma concepção de democracia que transcende o nível institucional formal e se debruça sobre o conjunto das relações sociais permeadas pelo autoritarismo social e não apenas pela exclusão política no sentido estrito. (DAGNINO, 1994: pp. 104-105)” *.


Assim, estas manifestações refletem o que há de mais autoritário e atrasado em nosso país, buscando excluir da sociedade uma parcela significativa. Felizmente é contra essas práticas que devemos lutas e esta é uma das diversas lutas que representam o governo Lula e agora Dilma.

2) O preconceito, racismo e fascismo devem ser excluídos de qualquer sociedade! Mas uma campanha repleta de ódio e preconceito como foi a de Serra só podia alimentar este tipo de pensamento e comportamento. O lado bom disso é que um sentimento velado agora vem à tona e mostra a cara dessa elite xenofóbica.

3) A ideia de se achar superior, o que mantém o princípio nazista de supremacia da raça ariana é totalmente inadmissível nos dias de hoje! Achar que é superior porque é rico, paulista ou sulista e leitor de Veja, Folha e Estadão é um grande absurdo.

4) O princípio liberal de que o Estado não deve ser responsável por redistribuição de renda, que pobre deve continuar sendo, e pior, se é pobre é porque é vagabundo, são parte de uma ideologia ainda existente e aparente agora.

5) São estes princípios que podem ser explicitados agora e que não são adequados para serem levantados durante a campanha eleitoral. A onda de boatos preconceituosos já sinalizava neste sentido.

6) Incrível a defesa que fazem da candidatura Serra e crítica do Lula, principalmente de sua principal política social que é o Bolsa Família. Talvez saibam que era mentira a promessa de seu candidato Serra de dar 13º para esta política de renda mínima.

7) Outro aspecto são dois erros graves de análise e de alvo de raiva: o Nordeste não garantiu a vitória de Dilma, pois sem ele a candidata do PT teria quase dois milhões de votos a mais que seu oponente; a não percepção de que os grandes responsáveis pela eleição de Dilma foram Minas Gerais e Rio de Janeiro, isto é, o sudeste!

8) Ainda, o que pensar dos tantos milhões de sulistas, paulistas e de todos os demais Estados que votaram Dilma? Devem ser alvo de ódio também?

Felizmente o povo brasileiro já sabe que este posicionamento não cabe mais no século XXI e estamos rumando para um futuro mais igual, fraterno e justo, representado pelo atual governo e o futuro governo de Dilma. Não é por acaso que o PT sai ainda mais forte e o DEM praticamente sumiu do cenário político. Esse atraso é minoria para o bem do Brasil e felicidade de todos!

A democracia é um longo e constante processo, não podemos deixar que opiniões como estas representem um obstáculo á nossa construção que está sendo muito bem consolidada.

Encerro com uma feliz citação daquele que era um exemplo de cidadania, intelectualidade e educação brasileira, Darcy Ribeiro, em sua grande obra, “O Povo Brasileiro”:

A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista. Ela é que incandesce, ainda hoje, em tanta autoridade brasileira predisposta a torturar, seviciar e machucar os pobres que lhes caem às mãos. Ela, porém, provocando crescente indignação nos dará forças, amanhã, para conter os possessos e criar aqui uma sociedade solidária (RIBEIRO, 1995, p. 120)**


* Sonia E. ALVAREZ, Evelina DAGNINO e Arturo ESCOBAR (orgs.). Cultura e política nos movimentos sociais latino-americanos (novas leituras). Belo Horizonte, Editora UFMG, 2001.

** RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. São Paulo: Cia das Letras, 1995.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

SOLIDARIEDADE



Neste momento em que muitos parabenizam a presidenta eleita, Dilma Rousseff, eu gostaria de me dirigir a todos aqueles que se sentem derrotados. Como sou um defensor da democracia, creio ser fundamental me dirigir aos mais de 40 milhões que gostariam que José Serra fosse o Presidente.

Primeiro me solidarizo com a dor de vocês, de ver um candidato derrotado. Tudo bem que não apresentou sequer um projeto político, um programa de governo. Tudo bem que não expôs o ex-Presidente FHC, governo o qual ele era parte importante. Mas apesar disso tudo vocês tem mais o que lamentar.

Vamos por partes:

1) No cenário internacional vamos ter que continuar vendo o Brasil como um país respeitado, mais influente e sendo uma liderança importante. Não poderemos ter novamente a tão desejada submissão aos chamados países grandes, principalmente os Estados Unidos. Infelizmente teremos que o Brasil seguindo uma política externa mais aberta, buscando diferentes frentes e não apenas aquelas consideradas importantes e que nos permitiam ser submissos.

2) Na política econômica não poderemos voltar a ter mera política monetária, não poderemos mais ter juros altos e um risco Brasil extremamente elevado. Vamos ter que conviver com uma realidade melhor, vamos ter que seguir crescendo. Não teremos arrocho salarial e nem real desvalorizado. Devemos lamentar, pois tínhamos tudo para dar errado na crise mundial e, por atuação adequada do governo, deu tudo certo e realmente não passou de uma “marola”.

3) Outro ponto de lamentação é o fato de não podermos voltar ao processo de privatização. A Petrobrás e o Pré-sal terão que continuar sendo administrados pelo governo, isto é, pelo povo brasileiro. Os recursos terão que ser investidos em políticas sociais, saúde, educação, ciência e tecnologia. Podendo muito bem servir para aumentar os lucros de empresas multinacionais, teremos que ver estes recursos se voltar para a sociedade brasileira.

4) Triste também são as Universidades que voltaram a ser valorizadas e continuarão sendo. Lamentavelmente não será possível retornar ao sucateamento dos tempos de FHC. Infelizmente o ensino superior continuará sendo valorizado e não corre risco de ser destruído e também privatizado.

5) O mais triste do ensino superior e que teremos que agüentar: com criação e valorização das universidades federais e com o PROUNI qualquer um pode estudar. Infelizmente agora vocês que são da elite, são “superiores” vão ter que ter colegas pobres, filhos de pedreiros, faxineiras. Entendo as saudades de quando só filho de rico podia ser doutor!

6) É triste ver que Dilma representa um governo com 83% de aprovação. Seria melhor o candidato que representa um governo que terminou seus oito anos com um pouco mais de 30% de aprovação. Também, convenhamos, fazendo política para quem precisa, para os milhões de pobres que saíram da pobreza, dos milhões que conseguiram emprego, dos milhões que passaram a ter casa, dos milhões que agora podem comer! O candidato de vocês defendia mais bolsa-família, mais salário mínimo. Tá certo que ele nunca fez nada nesse sentido e nem vocês queriam que ele fizesse isso, mas valeu a tentativa.

7) Lamentável a elite, principalmente a paulista, continuar sem governar o país! Que saudades vocês devem ter de FHC, Adhemar de Barros e os bons tempos da política café-com-leite.

8) Lamentavelmente deverão conviver com a quebra de preconceitos. Contra nordestinos, contra os negros, contra as mulheres, contra os pobres, contra os trabalhadores, contra os aposentados. Bons tempos quando o Presidente FHC chamava aposentados de vagabundos. Infelizmente a crença de que pobre é pobre porque é vagabundo não prevaleceu. Infelizmente hoje há muito mais oportunidades.

9) Lamentável hoje ver que qualquer um pode ter condições de consumo, que qualquer um pode estudar, que qualquer um pode viajar (até mesmo de avião!), que qualquer um pode ser orgulhar de ser brasileiro.

10) Mais triste é ver que a corrupção aparece e é investigada. Triste não podermos mais engavetar as denúncias como no governo tucano. Triste a Polícia Federal investigar como nunca! Triste prender ricos, como da Daslu, que são “pessoas de bem”. Triste não poder mais esconder como foi feito com a Pasta Rosa, a emenda da reeleição, sanguessugas e tantos outros casos de corrupção do governo FHC. Triste ainda é não poder esconder como se faz em São Paulo com Paulo Preto, Rodoanel, verbas do SUS, entre outros tantos casos que nunca são sequer investigados.

11) Inacreditável é ver a Globo, a Veja, a Folha, o Estadão, entre outros, se esforçando tanto para destruir uma candidatura apenas porque é amplamente apoiada pelo povo. Aliás dou um conselho, comecem a criar um grupo de apoio à estes meios de comunicação. Tentem convencer a falarem algo relacionado à verdade, à credibilidade. É triste ver meios de comunicação tão relevantes caindo em total descrédito.

12) Lamentável ver vencer uma campanha que mostra um projeto que dá certo e propostas para sua manutenção! Muito melhor seria a vitória de uma campanha suja como a do Serra. Sem projeto, sem programa, como algumas propostas demagógicas isoladas e muita boataria, mentira e terrorismo eleitoral.

13) Triste ver que venceu a candidatura apoiada pela maioria do povo, com inúmeros manifestos de apoio, como por exemplo: mais de seis mil professores universitários, milhares de artistas, intelectuais, filósofos, psicólogos, profissionais da saúde, engenheiros, arquitetos, trabalhadores, sindicatos e tantos outros. Como vocês dizem, isso é tudo ignorância! Só quem tem “o verdadeiro conhecimento” são so sábios da classe média alta, leitora da Veja, Folha e Estadão!

Desculpem, mas eu fico triste de ver tanta revolta e ódio, ainda que saiba que tenha sido alimentado pelo candidato Serra. Acredito que será com reflexão e com tentativa de ver a realidade além da raiva, além do preconceito e da manipulação que poderão deixar de ser “do bem” apenas no slogan.

Desculpem, mas o Brasil vai seguir avançando, sendo menos desigual, sendo um país melhor para todos, sendo mais importante, mais respeitado. Desculpem, o Brasil agora tem uma mulher, Dilma Rousseff, presidente da República!