sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Boas Festas!


De férias, relaxando e com pouca internet o blog vai ficar um tempo meio devagar.

Aproveito para deixar um abraço a tod@s e desejar

UM FELIZ NATAL (atrasado) e um 2009 DE MUITAS REALIZAÇÕES E MUITA ALEGRIA!!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

El Mar

El Mar

Antes que el sueño (o el terror) tejiera
Mitologías y cosmogonías,
Antes que el tiempo se acuñara en días,
El mar, el siempre mar, ya estaba y era.
?Quién es el mar? ?Quién es aquel violento
Y antiguo ser que roe los pilares
De la tierra y es uno y muchos mares
Y abismo y resplandor y azar y viento?
Quien lo mira lo ve por vez primera,

Siempre. Con el asombro que las cosas
Elementales dejan, las hermosas
Tardes, la luna, el fuego de una hoguera.
?Quién es el mar, quién soy? Lo sabré el día
Ulterior que sucede a la agonía.


Jorge Luis Borges


* Foto da Praia do Cassino, feita por mim.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Das utopias


Escrevendo o post sobre Saramago e utopia, lembrei desse poeminha de Mário Quintana e resolvi postá-lo também:

DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!

Mario Quintana - Espelho Mágico

GRÊMIO SEMPRE!




"Já vivi muitas coisas da vida, mas não tem nada igual a isso. É de arrepiar"
Souza

JOSÉ SARAMAGO: A humanidade não merece a vida


A publicação de trechos da fala de Saramago na semana passada na Folha de São Paulo mostra a importância e coerência no pensamento do grande escritor português, Prêmio Nobel, José Saramago. Me fez lembrar a felicidade que tive de assistir sua fala no Fórum Social Mundial de 2005, no auditório Araújo Viana lotado, em Porto Alegre. Foi um dos momentos mais significativos daquele Fórum, com a conferência Quixote e Utopia. A relevância da obra de Cervantes foi destacada como um exemplo de um sonhador, de alguém queria ver um mundo mais justo. A idéia de utopia tão importante para que as mudanças ocorram foi celebrada e destacada como disse Eduardo Galeano, como um caminho que deve estar sendo sempre construído.
José Saramago, na sua destreza com as palavras, iniciou sua fala contrariando a todos dizendo que tinha duas más notícias: que ele não era um utopista e que utopia não existe. Sim a utopia é um lugar distante a ser alcançado e de fato não existe e, portanto, ele não poderia ser um utopista. O que ele defende é que não devemos esperar alcançar nossas utopias, mas sim construir a mudança a cada dia, pois devemos mudar o hoje para termos um amanhã melhor.


Abaixo reproduzo a entrevista com Saramago publicada no dia 29 de novembro de 2008:


JOSÉ SARAMAGO: A humanidade não merece a vida

Prêmio Nobel português se define como um "comunista hormonal" e afirma que os instintos servem melhor aos animais do que a razão aos homens.


O ESCRITOR português José Saramago, 86, disse ontem que "a história da humanidade é um desastre" e que "nós não merecemos a vida". O autor, vencedor do Nobel de Literatura em 1998, participou de sabatina da Folha em celebração dos 50 anos da Ilustrada. O debate, assistido por 300 pessoas em um Teatro Folha lotado, teve como mediador o secretário de Redação do jornal Vaguinaldo Marinheiro. Participaram também, como entrevistadores, o crítico Luiz Costa Lima, a repórter da Ilustrada Sylvia Colombo e Manuel da Costa Pinto, colunista do caderno.

(veja suas principais idéias e respostas aos temas colocados.)


HUMANIDADE

A história da humanidade é um desastre contínuo. Nunca houve nada que se parecesse com um momento de paz. Se ainda fosse só a guerra, em que as pessoas se enfrentam ou são obrigadas a se enfrentar... Mas não é só isso. Esta raiva que no fundo há em mim, uma espécie de raiva às vezes incontida, é porque nós não merecemos a vida. Não a merecemos. Não se percebeu ainda que o instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem. O animal, para se alimentar, tem que matar o outro animal. Mas nós não, nós matamos por prazer, por gosto. Se fizermos um cálculo de quantos delinqüentes vivem no mundo, deve ser um número fabuloso. Vivemos na violência. Não usamos a razão para defender a vida; usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras -no plano privado e no plano público.


MARXISMO HORMONAL

Desde muito novo orientei-me para a consciência de que o mundo está errado. Não importa aqui qual foi o grau da minha militância todos esses anos. O que importa é que o mundo estava errado, e eu queria fazer coisas para modificá-lo. O espaço ideológico e político em que se esperava encontrar alguma coisa que confirmasse essa idéia era, é claro, a esquerda comunista. Para aí fui e aí estou. Sou aquilo que se pode chamar de comunista hormonal. O que isso quer dizer? Assim como tenho no corpo um hormônio que me faz crescer a barba, há outro que me obriga a ser comunista.


CRISE ATUAL

Marx nunca teve tanta razão quanto agora. O trabalho constrói, e a privação dele é uma espécie de trauma. Vamos ver o que acontece agora com os milhões de pessoas que vão ficar sem emprego. A chamada classe média acabou. Ou melhor: está em processo de desagregação. Falava-se em dois anos [para a recuperação da economia depois da crise financeira]; agora já se fala em três. Veremos se Marx tem ou não razão.


DEUS E BÍBLIA

Por que eu teria de mudar [a concepção de Deus após a doença]? Porque supostamente me salvou a vida? Quem me salvou foram os médicos e a minha mulher. E Deus se esqueceu de Santa Catarina? Não quero ofender ninguém, mas Deus não existe. Salvo na cabeça das pessoas, onde está o diabo, o mal e o bem. Inventamos Deus porque tínhamos medo de morrer, acreditávamos que talvez houvesse uma segunda vida. Inventamos o inferno, o paraíso e o purgatório. Quando a igreja inventou o pecado, inventou um instrumento de controle, não tanto das almas, porque à igreja não importam as almas, mas dos corpos. O sonho da igreja sempre foi nos transformar em eunucos. A Bíblia foi escrita ao longo de 2.000 anos e não é um livro que se possa deixar nas mãos de um inocente. Só tem maus conselhos, assassinatos, incestos...


RELAÇÃO COM PORTUGAL

Espalham por aí idéias sobre minha relação com meu país que não estão corretas. Saímos [Saramago e sua mulher, Pilar] de Lisboa [para a ilha de Lanzarote] em conseqüência de uma atitude do governo, não do país nem da população. Mas do governo, que não permitiu que meu livro ["O Evangelho Segundo Jesus Cristo"] fosse inscrito num prêmio da União Européia. Nunca tive problemas com o meu país, mas com o governo, que depois não foi capaz de pedir desculpas. Nisso, os governos são todos iguais, dificilmente pedem desculpas. Fomos para lá e continuamos pagando impostos em Portugal. Agora temos duas casas. Mudei de bairro, porque o vizinho me incomodava. E o vizinho era o governo português.


ACORDO ORTOGRÁFICO

Em princípio, não me parecia necessário. De toda forma, continuaríamos a nos entender. O que me fez mudar de opinião foi a idéia de que, se o português quer ganhar influência no mundo, tem de adotar uma grafia única. Se Portugal tivesse 140 milhões de habitantes, provavelmente teríamos imposto ao Brasil a nossa grafia. Acontecem que os 140 milhões estão no Brasil, e o Brasil tem mais presença internacional. Perderíamos muito com a idéia de que o português é nosso, nós o tornaríamos uma língua que ninguém fala. Quando acabou o "ph", não consta que tenha havido uma revolução.


LITERATURA BRASILEIRA

Houve um tempo em que os autores brasileiros estavam presentes em Portugal, e em alguns casos podíamos dizer que conhecíamos tão bem a literatura brasileira quanto a portuguesa. Graciliano Ramos, Jorge Amado, os poetas, como João Cabral [de Melo Neto], Manuel Bandeira, essa gente era lida com paixão. Para nós, aquilo representava a voz do Brasil. Agora, que eu saiba, não há nenhum escritor brasileiro que seja lido com paixão em Portugal. Culpo a mim, talvez, por não ter a curiosidade. Mas também não temos a obrigação de descobrir aquilo que nem sabemos se existe.


LEITOR

O leitor me importa só depois que escrevi. Enquanto escrevo, não importa, porque não se escreve para um leitor específico. Há dois tempos, o tempo em que o autor não tinha leitores e o tempo em que tem. Mas a responsabilidade é igual, é com o trabalho que se faz. Agora, eu penso nos leitores quando recebo cartas extraordinárias. É um fenômeno recente. Ninguém escreveu a Camões, mas hoje há essa comunicação, essa ansiedade do leitor.


"Em nome de todos os brasileiros, obrigada por existir", disse alto, ao final da sabatina, uma integrante da platéia, enquanto Saramago terminava de falar.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Felicidade


Charlie Brown, só para descontrair um pouco.

O analfabeto político



O alemão Bertold Brecht (1898-1956) foi um dos mais importantes escritores e dramaturgos do século passado. Esta é sua poesia mais conhecida. Em pleno 2008 ela ainda é muito atual, e é sempre bom relembrá-la:


O ANALFABETO POLÍTICO
Bertold Brecht


O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
Nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo da vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguel, do sapato e do remédio
Dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
É tão burro que se orgulha
E estufa o peito dizendo
Que odeia a política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política
Nasce a prostituta, o menor abandonado,
E o pior de todos os bandidos,
Que é o político vigarista,
Pilantra, corrupto e lacaio
Dos exploradores do povo.


Política e Ética III


Mais uma vez trato de ética e política. A democracia é um processo em permanente construção e só com ética vai ser construída de uma forma adequada.
Esta idéia de uma construção permanente da democracia, buscando uma sociedade participativa (como define Carole Pateman), torna-se fundamental não apenas na elaboração de políticas públicas, mas também no outro lado que é o controle público do Estado, a fiscalização, uma maior transparência das contas públicas. Com isso se pode buscar diminuir outro problema histórico de nossa história política que é a questão ética que se torna confusa em um Estado privado, de uma corrupção que se faz constante em todo período republicano, como herança do Império. A questão do distanciamento entre Estado e sociedade como causa da corrupção é destacada ,entre outros, por Raymundo Faoro, com a idéia de estamento burocrático descolado da nação; ética e ethos são colocados em pólos opostos.
A República surge como solução à corrupção da monarquia e despotismo do poder Moderador do Imperador, que era visto como pessoal e irresponsável. O novo regime viria em nome democracia, do progresso, da moralidade, aspirações estas que até hoje não se concretizaram. A res publica continua sendo uma res privada.
Podemos utilizar hoje com a mesma relevância de quando foi escrita a frase de José Bonifácio: a sã política é filha da moral e da razão. Eis a questão, a nossa política teve outros “pais”, que não foram a moral e a razão, como gostaria, mas pelo contrário, a moral é a da vantagem pessoal, particular, do paternalismo coronelista, enquanto a razão é “cruzada” pela emoção, na formação do que Sérgio Buarque de Hollanda chamou o “homem cordial”.
Romper com esse passado é um obstáculo difícil, mas que precisa ser ultrapassado, e apenas com uma democracia onde público seja público e a sociedade seja forte assim como o Estado atuante esta possibilidade pode ser vislumbrada.