quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Política e Ética III


Mais uma vez trato de ética e política. A democracia é um processo em permanente construção e só com ética vai ser construída de uma forma adequada.
Esta idéia de uma construção permanente da democracia, buscando uma sociedade participativa (como define Carole Pateman), torna-se fundamental não apenas na elaboração de políticas públicas, mas também no outro lado que é o controle público do Estado, a fiscalização, uma maior transparência das contas públicas. Com isso se pode buscar diminuir outro problema histórico de nossa história política que é a questão ética que se torna confusa em um Estado privado, de uma corrupção que se faz constante em todo período republicano, como herança do Império. A questão do distanciamento entre Estado e sociedade como causa da corrupção é destacada ,entre outros, por Raymundo Faoro, com a idéia de estamento burocrático descolado da nação; ética e ethos são colocados em pólos opostos.
A República surge como solução à corrupção da monarquia e despotismo do poder Moderador do Imperador, que era visto como pessoal e irresponsável. O novo regime viria em nome democracia, do progresso, da moralidade, aspirações estas que até hoje não se concretizaram. A res publica continua sendo uma res privada.
Podemos utilizar hoje com a mesma relevância de quando foi escrita a frase de José Bonifácio: a sã política é filha da moral e da razão. Eis a questão, a nossa política teve outros “pais”, que não foram a moral e a razão, como gostaria, mas pelo contrário, a moral é a da vantagem pessoal, particular, do paternalismo coronelista, enquanto a razão é “cruzada” pela emoção, na formação do que Sérgio Buarque de Hollanda chamou o “homem cordial”.
Romper com esse passado é um obstáculo difícil, mas que precisa ser ultrapassado, e apenas com uma democracia onde público seja público e a sociedade seja forte assim como o Estado atuante esta possibilidade pode ser vislumbrada.

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