domingo, 1 de junho de 2014

Mudanças

Acabo de passar por uma experiência inesquecível. Após quase dois meses envolvido em dois concursos e trabalhando, fui aprovado no concurso de professor da FURG, Campus Avançado de Santa Vitória do Palmar, abandonando o outro concurso - IF Farroupilha - no qual já havia sido aprovado na primeira fase.
Para mim é uma grande conquista, um sonho realizado após dez anos de vida docente. Questão salarial, de reconhecimento profissional, vida acadêmica, enfim, sem dúvidas representa um salto na minha carreira.
Pois eis que a prtir dessa aprovação ocorrida no dia 14 de maio passei a me preparar para esta mudança em minha vida.
O primeiro e, talvez mais difícil, foi deixar o Colégio Marista São Francisco, onde desde 2009 era professor de sociologia e filosofia no Ensino Médio. Como todo local de trabalho, tem seus aspectos positivos e negativos, mas ao longo do tempo parecem que apenas os aspectos negativos parecem existir. Na hora de sair que se começa a perceber o lado bom, até ser supreendido por uma série de fatos que ficarão para sempre na minha lembrança.
Avisei que sairia no dia 31 de maio, data do conselho de clase e mudança de trimestre, facilitando assim o trabalho do novo professor, ainda que seja uma stuação complicada assumir o trabalho de outro em andamento. Ajudei na busca de um substituto, bem como na sua seleção. Tudo resolvido, chega a última semana de aula. E, por mais que eu soubesse que tinha uma boa relação com os estudantes, nunca imaginei que pudesse ter uma despedida como a que acabou ocorrendo. Todas as nove turmas que trabalhava prepararam despedidas, com decoração, cartazes, presentes, salgados, bolos, cup cakes, refrigerantes, balões, vídeos, textos, poemas, "selfies", abraços, e o mais importante: muito carinho.
Não tenho dúvidas de que foi a experiência mais emocionante de minha vida e o maior reconhecimento que podia ter como educador e como pessoa. Não apenas como professor de sociologia e filosofia, mas como educador e ser humano. Me descobri um grande chorão, pois se tornou impossível conter a emoção frente a tanta demonstração de carinho. Ao mesmo tempo percebi a responsabilidade frente aos adolescentes, como a velha frase da raposa de Saint-Exupéry: "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".
Aprendi na prática essa grandioza responsabilidade do educador ao cativar seus educandos. Foi uma despedida que se eu tivesse sonhado não seria metade do que foi. Não teriam os momentos, as lágrimas e emoções que tiveram.
Ainda bem que tenho uns dias para descansar e tentar me recuperar desta avalanche de emoção e carinho. Levarei para sempre a lembranaça desses momentos. Levarei para sempre esses mais de cinco anos no Colégio Marista São Francisco, com tanto aprendizado, alegria e amizades. Levarei para sempre as aulas, os debates, os trabalhos, a sala dos professores, o nosso teatro, as apresentações e acima de tudo, que foi onde passei a maior experiência emocional de minha vida.
Ora, se é um momento de mudança, essa mudança não podia ocorrer de melhor forma. Serei eternamente grato por tal alegria e tristeza ao mesmo tempo.



domingo, 27 de abril de 2014

Rolezinho em Rio Grande (?) - uma breve análise sociológica



Por Cristiano Ruiz Engelke

 No último dia 23 de abril a cidade de Rio Grande parece ter passado por um “momento histórico”, como se tivesse adentrado na modernidade. A abertura de um shopping center simboliza o moderno em contradição ao tradicional, como uma necessidade de se perceber como avançado, inserido no mundo global. O Brasil é marcado por essa dicotomia moderno X tradicional, tão bem explicada pelo sociólogo José de Souza Martins. Se por um lado há representações da modernidade (consumismo, tecnologia, grandes centros urbanos e shopping centers), há também inúmeras características tradicionais que se mantém (a estratificação em classes sociais, o mundo rural ou periférico, o “atraso” tecnológico).

De acordo com Martins, “a modernidade é, num certo sentido, o reino do cinismo: é constitutiva dela a denúncia das desigualdades e dos desencontros que a caracterizam. Nela o capitalismo se antecipa à crítica radical de suas vítimas mais sofridas. Por isso, a modernidade não pode deixar de conter (e manipular) reconhecíveis evidências dos problemas e das contradições de que ela é a expressão”. Portanto é neste “reino do cinismo” que as relações sociais se desenvolvem, principalmente em espaços públicos, como shopping centers.

Os shopping centers são a própria metáfora de nosso mundo atual. Como bem descreve o importante sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que hoje vivemos em um mundo marcado pelo individualismo e consumismo, com enfraquecimento dos laços sociais, onde o local que representa tudo isso, ou ainda o “não-lugar”, é o shopping center. Não-lugar, pois é um vazio, deslocado do espaço urbano, da comunidade. Nas palavras de Bauman, “esse ‘lugar sem lugar’ auto-cercado, diferentemente de todos os lugares ocupados ou cruzados diariamente, é também um espaço purificado. (...) Os lugares de compra/consumo oferecem o que nenhuma ‘realidade real’ externa pode dar: o equilíbrio quase perfeito entre liberdade e segurança”.

Assim temos duas características importantes: a “entrada no mundo moderno”, ainda que de forma cínica, e a constituição de “não-lugares”, com sua limpeza, segurança e exclusão. Creio que a partir daí podemos divagar sobre supostos rolezinhos anunciados em Rio Grande e a preocupação por parte da administração do shopping, bem como de seus frequentadores. É o escancaramento do cinismo da modernidade do qual trata José de Souza Martins. O mesmo autor nos ajuda com outro ponto acerca da modernidade: “A melhor expressão de nossa consciência crítica da modernidade é o deboche, não a reivindicação social nem a crítica social propriamente dita, que poderia levar a um certo controle dos rumos da modernização em nome dos interesses sociais dos que seriam por ele prejudicados”.

Os rolezinhos nada mais são que expressão desse deboche! Uma sociedade que é marcada pelas diferenças sociais e que acredita que esses “não-lugares” não podem ser ocupados por quem não tem as características condizentes, o que significa o que Pierre Bourdieu chamava de “regras de distinção social”, as quais estão claras e devem ser respeitadas, nem que seja apresentando a carteira de identidade.

Uma sociedade com preconceito social histórico tem muita dificuldade para lidar com a inclusão social (principalmente do consumo) das classes até então excluídas. É como se estes não soubessem “se colocar no seu lugar”. Estes eventos representam uma perturbação da ordem? Pode ser e este é objetivo. Percebo uma mensagem semelhante a um grito de socorro:

- “Ei, estamos aqui, nós existimos e queremos ser valorizados e respeitados!”

Evidentemente que muitos se incomodam, mas acima de tudo essas “novidades” põem em evidência os conflitos sociais seculares que ainda persistem, reforçados pela inclusão de uma parcela significativa da sociedade. Parcela esta que parece ter que "saber o seu lugar", que é percebida como estranho, ainda que esteja em um estabelecimento ao lado de seu bairro

Mesmo que tenhamos uma democracia consolidada em nosso país, ainda temos um forte “autoritarismo social”, definido por Evelina Dagnino como “formas de sociabilidade numa cultura autoritária de exclusão que subjaz ao conjunto das práticas sociais e reproduz a desigualdade nas relações sociais em todos os seus níveis”. É contra esse autoritarismo social que os rolezinhos “gritam”, e que devíamos observar em vez de revoltosamente exalar preconceito e mais autoritarismo.

Enfim, deixo a reflexão para que, em vez de apenas reclamar de forma preconceituosa, pensemos com mais calma, com base na alteridade e na construção de uma sociedade mais justa para todos, por mais difícil que seja, com ou sem shopping centers e rolezinhos (que ainda nem aconteceram!).


Referências:

ALVARES,S. DAGNINO E. ESCOBAR. (org.). Cultura Política nos Movimentos Sociais Latino-americanos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
MARTINS, José de Souza. A sociabilidade do homem simples. São Paulo: Contexto, 2008.

sábado, 26 de abril de 2014

O eterno retorno (do blog!)



Mais uma vez estou tentando retornar às atividades do meu blog. Agora foram quase dois anos de parada, inclusive de esquecimento deste espaço. Agora de novo estou de volta. Espero poder manter por mais tempo e que haja algum público senão não faz sentido ter um blog (aliás, ainda faz sentido ter um blog?)
Estou envolvido em uma série de atividades que me deixam sem tempo, mas basta um mínimo de organização para escrever ou compartilhar textos neste espaço. Nesse meio tempo já fui e deixei de ser professor na UFPel - brilhante experiência - bem como me considero diferente, inclusive me chamando atenção vários dos textos do meu próprio blog: alguns positiva e outros negativamente, mas fazem parte de minha história e permanecerão, sendo a partir de agora acrescidos de novos textos.
Sigo assim mais uma etapa do "eterno retorno"(como diria Nietzsche), como um constante ir e vir deste blog. 
"A eterna ampulheta da eexistência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". Freidrich Nietzsche
Por isso estou voltando, contando que consiga produzir algo que mantenha este blog vivo, mas também com esperança de que sirva como espaço de informação, opinião e discussão. Por isso preciso da ajuda dos leitores, com comentários, sugestões ou nem que seja para falar mal de mim e de meus textos!


Abraços