quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Praia do Cassino como espaço público


* artigo enviado para o Jornal Agora no dia 12/01/12

Nos últimos dias tenho acompanhado um acalorado debate neste jornal acerca do movimento na praia do Cassino e suas consequências. Além de cartas no jornal impresso, discussões prosseguem em comentários no site deste jornal.
Acredito que seja importante fazermos uma análise um pouco mais ampla, diria até mesmo sociológica. Creio que podemos inicialmente distinguir dois aspectos: o comportamento social e a atuação do Estado.
Inicio pela atuação do Estado. É senso comum que o Estado tem dificuldades em fazer funcionar coisas simples. Ele deve ser cada vez mais organizado e assim também buscar uma ordem social. Quando falo em Estado me refiro à instituição de poder, no caso específico em sua esfera estadual (polícia militar) e principalmente municipal (planejamento, organização, fiscalização, etc.). É evidente que falta fiscalização, organização e planejamento e isto deve ser cobrado das autoridades competentes, principalmente prefeitos e vereadores.
Algumas alternativas simples como uma fiscalização realmente efetiva, uma padronização dos trailers, uma fiscalização do trânsito, de som, de agressão ao meio ambiente, e até mesmo se pensar com seriedade o fim do trânsito de automóveis na praia seriam algumas alternativas. Sempre se citam algumas dessas possibilidades, todas elas dependendo das autoridades, de cumprimento, criação ou alteração de leis. Portanto deixando-se apenas ao Estado a responsabilidade de resolver o problema – o que é sua atribuição.
O segundo ponto que acredito que seja a raiz do problema vai além do papel do Estado: a sociedade. Os problemas enfrentados em nosso balneário são muitos semelhantes a encontrados em outras praias, cidades, grupos e até mesmo redes sociais: o individualismo, a ética do “jeitinho” e a dificuldade de compreender o espaço público.
O individualismo é característica cada vez maior no mundo atual e faz com que percamos os laços sociais, a não ser para garantir a nosso sucesso, a nossa visibilidade como indivíduos, pois somos movidos pela ânsia individualista de consumir, de estar olhando apenas para seu próprio umbigo. Junta-se a isto a utilização do carro como forma de status, de diferenciação, em vez de ser apenas um meio de transporte. O carro e o seu som deveriam ser para transportar e entreter as pessoas e não para chamar atenção dos outros.
Para agravar o individualismo temos a marca de uma ética do “jeitinho”, do “sabe com quem tá falando”, que só reforça o individualismo e a consequência falta de coletividade.  Este comportamento perpassa os mais variados locais e formas, sempre fazendo com que se busque a esperteza, a vantagem, em lugar do justo, do correto.
Acrescento ainda como um elemento crucial a confusão histórica em nosso país entre o público e o privado. A compreensão do Brasil como uma res publica, isto é, uma coisa pública, ainda é um processo em difícil construção. A sociedade, de maneira geral, ainda tende a perceber o público como algo que é seu: “se é público é de todos, portanto é meu”! Errado, se é público é de todos! Assim acredita-se que pode andar com seu carro (ou estacioná-lo) onde quiser e como quiser, inclusive bebendo, pois é público; que pode ouvir o som que quiser, pois é público; que se pode sujar, deixar latas, garrafas, destruir a praia, pois é pública, e por aí poderia seguir citando inúmeros exemplos. Ainda neste ponto, discordo dos argumentos do tipo “os incomodados que se retirem”, pois é uma alternativa que despreza a noção de espaço público.
Para concluir, creio que é sim necessária uma maior fiscalização, mas é essencial uma conscientização, com ética e respeito, percebendo que a praia é um espaço da natureza e público, de todos e para sempre. Reforço que devemos cobrar das autoridades, mas mais que isso repensar as nossas atitudes para que assim possamos realmente ter um Cassino para todos.
 *Cristiano Ruiz Engelke

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